Clínica Dra. Rosa Basto - Psicologia e Hipnoterapia | Este Verão, não desligue: ligue-se às suas necessidades

Este Verão, não desligue: ligue-se às suas necessidades

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Com o ritmo acelerado que atualmente vamos vivendo, em que a pressão do trabalho e as exigências do dia a dia podem ser absolutamente esmagadoras, reservar espaço para um tempo de pausa não é apenas um luxo, mas sim uma verdadeira necessidade. As férias são muito mais do que “passar uns dias aqui ou ali”, são vitais para o nosso bem-estar e para o equilíbrio da nossa saúde física e mental.


É certo que somos todos diferentes e há quem prefira um dia-a-dia com rotinas bem estabelecidas e organizadas, enquanto outras pessoas se sentem mais à vontade com a criatividade, o imprevisto e alguma agitação. Alguns fazem dos seus sonhos um fluxo pacificador e, sentindo-se intensamente absorvidos em alcançá-los, não se cansam nem desgastam. Mas há também quem prefira o recato, a meditação e o “deixar andar” fluido do dia-a-dia. Alguns privilegiam a evolução interna em busca de um sentido para si, enquanto outros preferem atuar externamente, como agentes capazes de deixar um verdadeiro legado à humanidade. A verdade é que, seja qual for a nossa versão – que não nos classifica como melhores ou piores pessoas, mais ou menos válidas… é importante respeitar a diversidade, respeitando também (e em primeira linha) a nossa própria verdade e integridade – todos beneficiamos de um tempo de pausa e relaxamento proporcionado por umas (merecidas) férias.

Quantos de nós vivemos, rotineiramente, entregues a uma espécie de “rodinha de hamster” que nos faz circular pelo dia-a-dia, em circuito fechado, muitas vezes acelerado e sem direito a paragens ou sequer abrandamento de velocidade?

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É precisamente neste ponto de reflexão que entra o respeito pela nossa própria integridade. É importante abrandar, parar, fazer mesmo uma pausa e dar o salto dessa “rodinha circulante”, permitindo que o corpo e a mente se reequilibrem num ritmo mais harmonioso e absolutamente regenerador. Esse é então o objetivo das férias: proporcionar um espaço interno e externo de recuperação e interrupção da rotina quotidiana, fundamental para a nossa saúde física e psicológica. Os tão necessários e desejados períodos de descanso estão intimamente ligados ao alívio de ansiedade e stress, uma vez que as preocupações contínuas do dia a dia deixam, progressivamente, de estar presentes, dando oportunidade para que se produzam no nosso organismo hormonas como a serotonina e dopamina, ligadas ao bem-estar e à felicidade. Importa referir que o stress, por si só, não é obrigatoriamente mau. Quando é esporádico, poderá até ser benéfico, porque ativa mecanismos que nos ajudam a realizar eficazmente ações do nosso trabalho, do dia-a-dia… como o cumprimento de prazos, planeamento, organização.

É importante abrandar, parar, fazer mesmo uma pausa e dar o salto dessa “rodinha circulante”, permitindo que o corpo e a mente se reequilibrem num ritmo mais harmonioso e absolutamente regenerador.

O “outro stress” — aquele que tem conotações negativas para todos — é o crónico. Este ocorre quando se prolonga no tempo, seja porque estamos sob pressão constante ou devido a situações com as quais não estamos a conseguir lidar e, por isso, gera fadiga, níveis elevados de ansiedade, irritabilidade e raiva. E esse sim, é mau, sem dúvida.

As manifestações deste stress crónico, ou Burnout4, podem variar muito de pessoa para pessoa, mas geralmente, quem o experiencia revela sentimentos de subvalorização e sente-se frequentemente assoberbado no trabalho – o que irá influenciar o seu bem-estar (também) fora do local de trabalho, incluindo na vida familiar.

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Existem 3 fatores que formam a tríade sintomatológica do síndrome de Burnout3, conheça quais são:

  • Exaustão: sentimentos de stress, especificamente fadiga crónica e sentimentos de exaustão.
  • Apatia:  refere-se a uma atitude apática ou distanciada em relação ao trabalho em geral e às pessoas com quem se trabalha; levando à perda de interesse pelo trabalho ou pouca motivação, tendência para se isolar, sair mais cedo ou chegar mais tarde ao trabalho, preferência por adiar tarefas, baixa autoestima, sentir-se sozinho e pouco valorizado.
  • Sentimentos de ineficiência: pior desempenho nas tarefas, menos confiança na capacidade para atingir objetivos ou sensação de falhanço.

Recorrer a um profissional de saúde, ou mesmo um especialista em saúde mental, pode ser o primeiro passo para ultrapassar o desafio. Resista ao eventual impulso para se isolar e procure não assumir que, ao partilhar os seus sentimentos com um terapeuta, estará a ser reflexo de um falhanço ou fracasso. Pelo contrário, acredite que da exaustão, poderá retirar a sua verdadeira força!

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Tendo então em mente a importância de relaxar e desligar o “estado de alerta” durante as férias,2 tenho vindo a observar, através da minha prática clínica que no geral, que nestes períodos de descanso conseguimos ter mais tempo e disponibilidade para realizar atividades que gostamos e valorizamos, o que aumenta substancialmente os nossos níveis de felicidade e conduz ao aumento do bom-humor, tranquilidade, vontade de sorrir e interagir.

Resista ao eventual impulso para se isolar e procure não assumir que, ao partilhar os seus sentimentos com um terapeuta, estará a ser reflexo de um falhanço ou fracasso. Pelo contrário, acredite que da exaustão, poderá retirar a sua verdadeira força!

Desligar em tempo de férias

Quando falamos em “desligar em tempo de férias”, implica de alguma forma estarmos ligados. Ligados às nossas necessidades, aos sinais do corpo e da mente, ligados ao que aconteceu ao longo dos últimos meses, seja no âmbito profissional como familiar e contextual. Estarmos conscientes do cansaço, do cumprimento ou não dos objetivos que nos propusemos, do nosso bem-estar ou desmotivação. E é precisamente essa conexão com o nosso interior que nos irá permitir avançar num caminho de recuperação e regeneração.

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Existem algumas estratégias que vou partilhar consigo e que poderá experimentar, antes e durante as férias, para se conseguir (progressivamente) distanciar do trabalho, da azáfama do dia-a-dia. A grande maioria das práticas assenta em planeamento e antecipação:

  • Marcar e planear as férias com alguma antecedência, permite ter mais tempo para preparar o seu trabalho e, caso seja necessário, delegar algumas tarefas.
  • Comunicar as suas férias às pessoas com quem trabalha diretamente, informando-as do período em que não vai estar presente.
  • Ativar a mensagem de out of office no seu e-mail e outras plataformas que utiliza, explicitando o período em que vai estar ausente e partilhando um contacto alternativo, por forma a certificar-se de que todos os assuntos terão uma resposta atempada e adequada.
  • Fazer uma lista de tarefas prioritárias que poderá tratar antes de se ausentar, fazendo check em cada item resolvido.
  • Prepare uma outra lista das tarefas a realizar quando regressar de férias.
  • Antecipe uma ou outra dificuldade que possam surgir e deixe esses temas esclarecidos e devidamente encaminhados ao cuidado dos seus colegas e chefia – para minimizar a necessidade de interromperem o seu (tão precioso) período de descanso.

Se, por algum motivo, não for (de todo) possível estar totalmente ausente, procure estabelecer limites (que fiquem claros) sobre os períodos do dia em que podem entrar em contato. Tendo telemóvel ou computador de trabalho, mantenha-os absolutamente desligados com exceção de um ou outro momento que reservou como períodos de possível contato.

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Apesar da importância do planeamento, tenha presente que, na verdade, controlarmos tudo o que acontece é algo absolutamente inalcançável. Desta forma, caso seja necessário, mantenha-se flexível, disponível para fazer alguns ajustes nas atividades inicialmente previstas para as férias, experienciando assim de forma fluida cada momento, simplesmente deixando acontecer.

A verdade é que investir nas férias de verão não é apenas uma questão de lazer. Poderá ser uma estratégia vital para manter estável a sua saúde física e mental.

O descanso é uma necessidade, não um luxo. O equilíbrio entre trabalho, descanso e prazer parece ser a chave para uma vida mais saudável e feliz. Bom descanso, e férias felizes!

 


Referências Bibliográficas:

1 Ben Simon, E., Rossi, A., Harvey, A.G. et al.Overanxious and Underslept, Nature Human Behavior, 2020 novembro 4

2 Gomes CM, Capellari C, Pereira DSG, Volkart PR, Moraes AP, Jardim V, Bertuol M. Stress and cardiovascular risk: multi-professional intervention in health education. Revista Brasileira de Enfermagem, 2016

3 Maslach, C., Jackson, S. E., & Leiter, M. P. (1997). Maslach Burnout Inventory: Third edition. In C. P. Zalaquett & R. J. Wood (Eds.), Evaluating stress: A book of resources (pp. 191–218). Scarecrow Education.

4 OMS – Organização Mundial de Saúde – Burnout um “fenómeno ocupacional”: Classificação Internacional de Doenças (CID), 2019 maio 28

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