E se neste Carnaval a máscara cair?
Aproxima-se o Carnaval e, com ele, surge a oportunidade de nos entregarmos à folia e de sermos algo diferente do que fomos nos meses anteriores. Vivemos o Carnaval com a ilusão de que, ao nos transformarmos em algo distinto da nossa essência, alcançaremos a verdadeira felicidade. Mas, e se fosse ao contrário? E se o Carnaval fosse o dia em que nos libertássemos das máscaras que usamos ao longo do ano, para, finalmente, sermos exatamente aquilo que realmente somos?
Poderá não estar inteiramente ciente, mas, de forma inconsciente, utilizamos máscaras todos os dias: no trabalho, em contextos recreativos, até com a própria família. Afastamo-nos da nossa essência porque tememos ser quem realmente somos. Talvez porque, no passado, a autenticidade tenha tido um custo elevado, e, como mecanismo de defesa, escolhemos disfarçar-nos. Assim, se alguém nos afetar, o impacto não recai sobre a nossa verdadeira identidade, mas sobre o disfarce social que criámos – este disfarce é a nossa “barreira protetora”.
…o impacto não recai sobre a nossa verdadeira identidade, mas sobre o disfarce social que criámos.
O leitor poderá estar agora a perguntar-se: “Máscaras? Eu sou sempre igual a mim!”. No entanto, gostaria de lhe transmitir que, embora esta seja uma ideia difícil de aceitar à primeira vista, é natural criarmos máscaras. Em segundo lugar, não precisamos ser iguais em todos os momentos, em todos os lugares e com todas as pessoas. O nosso comportamento é adaptável, somos seres flexíveis — e ainda bem!
Usar máscaras não é, necessariamente, algo pouco saudável, pois muitas vezes precisamos delas para gerir de forma funcional diversos contextos. Por exemplo, no ambiente de trabalho, é necessário adotar uma “máscara” de profissionalismo, evitando reagir a adversidades da mesma forma que faríamos num contexto mais íntimo, pois representamos uma organização. No entanto, torna-se pejorativo usar esses disfarces quando a máscara nos causa sofrimento, quando é usada de forma excessiva ou quando a aplicamos em lugares e circunstâncias onde não é necessária.
…no ambiente de trabalho, é necessário adotar uma “máscara” de profissionalismo, evitando reagir a adversidades da mesma forma que faríamos num contexto mais íntimo…
As máscaras disfuncionais têm origem em experiências traumáticas do passado, como abuso, negligência, bullying ou outras. Quando resultam dessas experiências, tendem a ser usadas e abusadas, e passamos a avaliar constantemente o ambiente, identificar potenciais perigos e ajustar as nossas respostas — como se fôssemos grandes atores em constante improvisação.
Deixo-lhe algumas dicas para que, neste Carnaval, possa analisar e refletir sobre as máscaras que tem usado ao longo do ano. Pergunte-se:
Em que situações me sinto mais igual a mim mesmo/a?
Em que situações sinto que atuo/uso uma máscara?
Quais os gatilhos que me levam a adotar esta máscara?
Após identificar as suas máscaras, permita-se desmascarar-se em ambientes que considere seguros. Baixe a guarda com pessoas de confiança, como amigos ou até com o seu terapeuta, sem nunca esquecer que a vida é baseada em equilíbrios. E um dos equilíbrios mais belos é aquele que se faz entre a nossa autenticidade e a nossa capacidade de nos adaptarmos socialmente.
- E se neste Carnaval a máscara cair? - 25/02/2025