Natal: porque é que quando as luzes brilham a alegria de alguns se apaga?
Natal… uma época rica em símbolos com o potencial de evocar emoções e sentimentos poderosos: alegria, amor, esperança e união. E não! Não é apenas a magia do Natal!
As cores, as luzes, o pinheiro ornamentado abraçado em presentes, as barbas Brancas do Pai Natal, as paisagens repletas de neve, o cheiro a aletria e canela, o estalido da lenha que arde na lareira, são gatilhos poderosos para a nossa mente subconsciente, que nos guia no sentido do prazer e do conforto, e capazes de nos reportar para memórias e sensações (para a maioria de nós) muito agradáveis. Até mesmo o ato de dar e receber presentes e a satisfação que encontramos nesse ritual é explicada pelos nossos circuitos de ativação de recompensa ao nível cerebral. Curiosamente este ato, quando comparado com o de receber um prémio ou dinheiro, e por envolver uma componente social, ativa os circuitos cerebrais responsáveis pela libertação de ocitocina uma hormona produzida no Hipotálamo e que estimula sentimentos de confiança, segurança, conexão social e amor e que tem um prazo de duração longo no tempo.
Mas mesmo sendo o Natal uma regra de calendário (não só do nosso ano civil, mas para muitas religiões) tal como para todas as regras há sempre exceções. E mesmo que esta época seja uma verdadeira máquina de marketing que vende felicidade, nem todos se sentem rendidos a esse sentimento.
A verdade é que o Natal pode trazer visitas não tão desejadas. Stress, tristeza, solidão e até revolta são emoções e sentimentos que também podem entrar nos versos da quadra natalícia. Esta é uma época ambivalente e, portanto, não tem que ser consensual e que pode até nos desorganizar psicologicamente. Entre o conforto da proximidade onde pais, tios, primos e netos se sentam à mesa e a ausência de quem já partiu. Entre os brindes e a alegria forçada. Entre o retrato da família perfeita e as memórias carregadas ou a falta delas. Entre a troca de prendas e a mesa farta e a frustração de não ter dinheiro para o poder fazer. São imensas as dualidades que nos podem dividir. E esta realidade é um conto de Natal para adultos, porque quando somos crianças talvez tudo isto nos passe ao lado.
Esta é uma época ambivalente e, portanto, não tem que ser consensual e que pode até nos desorganizar psicologicamente.
O Natal pode ser muito exigente sob vários pontos de vista: económico, emocional, social e ocupacional. Os lutos e as perdas não respeitam datas festivas. É uma época que nos rouba tempo, acrescenta trabalho e vira-nos a casa do avesso. Sentir-se sobrecarregado e stressado, deprimido ou até mesmo ansioso é mais frequente do que o que se possa pensar. O Natal é para todos, mas feliz só para alguns.
O Natal pode ser particularmente difícil para as pessoas que lidam com problemas de saúde mental. Um inquérito conduzido pela National Alliance on Mental Illness (NAMI) concluiu que 64% das pessoas com uma perturbação mental relatam que o seu estado piora durante esta época do ano.
Vários fatores parecem contribuir para tal: ausência de proximidade de entes queridos, perdas e lutos familiares, a pressão para oferecer prendas, dificuldades económicas, interações familiares conflituosas ou disfuncionais, ou até mesmo os dias mais curtos. Tudo isto constitui um conjunto de fatores que culminando na mesma altura do ano podem trazer desafios inequívocos e de enorme intensidade que comprometem a nossa saúde mental.
Se do ponto de vista da responsabilidade social o aproximar da época natalícia nos leva a gestos de solidariedade que combatam as desigualdades sociais, é igualmente importante a sensibilização para protegermos a nossa saúde mental nesta altura do ano pois a prevalência de elevados níveis de stress pode despoletar e acentuar sintomas associados a perturbações mentais cada vez mais comuns como a ansiedade ou depressão, assim como a dependência de substâncias químicas.
Sinta-se extremamente alegre. Sinta-se emocionalmente em baixo. Tudo é válido e está certo! O Natal é isso mesmo. É emocional. Certamente pode ser intenso. E por acontecer no cessar do ano, quando já todos estamos um pouco cansados, talvez lhe queiramos associar alguma magia. Porque todos procuramos finalmente por dias perfeitos, leves e ternos, com um sabor doce.
Sinta-se extremamente alegre. Sinta-se emocionalmente em baixo. Tudo é válido e está certo! O Natal é isso mesmo. É emocional.
O Natal talvez seja a mais fraterna das celebrações, mas não se obrigue a estar feliz. Isso não faz de si o Grinch, nem um ser insensível, apenas o torna legitimamente humano.
Construa um significado individual para o seu Natal. Aproveite para se conectar consigo mesmo e com o seu mundo interior. Questionar as suas emoções. Permitir-se por exemplo a compreender que a tristeza ou até revolta que possa sentir não faz de si alguém anormal ou de má índole, mas talvez reflita uma vontade intrínseca de ter algo que nunca pôde ou que não vislumbra a possibilidade de vir a ter.
A compaixão é um sentimento que deve começar de nós para nós mesmos. Nesta época tão preenchida, torne-se uma prioridade na sua agenda. Dê um presente a si mesmo, seja o que for e que significado lhe atribuir, mas mime-se.